terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Rosane Dias da Silva, assassinada pelo marido, seria mais uma vítima da burocracia ou descaso policial?


Rosane Dias da Silva tinha apenas 23 anos e uma filha. Apanhava constantemente  do marido. Por volta da 1 hora do dia 23 de janeiro de 2012, ela ligou para o Centro Integrado de Defesa Social (Ciodes) informando que mais uma vez estava sendo agredida pelo marido.

Pobre Rosane. Confusa, ela teria dado endereço errado ao Ciodes. Ou melhor, só número errado. Disse que morava na casa número 99 da Rua Laranja da Terra, no bairro Parque das Gaivotas, na região de Nova Almeida, na Serra.


O Ciodes, prontamente, mandou para o local uma guarnição do 6° Batalhão da Polícia Militar (Serra). Os policiais foram para a Rua Laranja da Terra, mas alegam nada ter encontrado de anormal, nem o número 99. Também pudera: Rosane estava sendo agredida na casa ao lado, no número 89. Como robôs, os policiais deram meia volta, entraram na viatura (se é que eles saíram do carro) e foram embora do bairro.


Uma hora depois, o Ciodes recebe outro telefonema. Desta vez para avisar que a mulher que havia denunciado o espancamento acabara de ser assassinada, com duas facadas na nuca. O assassino era o mesmo homem que a agredia minutos antes. Voltaram para o bairro, só para recolher o corpo, já estirado no meio da rua, os mesmos policiais que estiveram no local uma hora antes.


Os jornais Notícia Agora e A Tribuna “culpam” o erro de Rosane por sua morte. Informam os dois jornais – com base, é claro, na justificativa do Ciodes e não em suas próprias apurações jornalísticas  – que a mulher somente não foi salva pelos policiais militares porque forneceu o número errado de sua casa.


Nem precisava do Ciodes dar essa justificativa para explicar a morte de Rosane, porque ninguém em sã consciência vai afirmar que os policiais militares que foram à rua onde ocorreu a tragédia são culpados pela morte de Rosane.


Ficam, entretanto, algumas indagações: se  esses mesmo policiais fossem um pouco mais comprometidos com sua função, o assassinato de Rosane teria sido evitado?


E se eles tivessem levantado a bunda do banco da viatura, mesmo de madrugada, e saído de casa em casa da Rua Laranja da Terra e perguntado a cada morador onde residia Rosane Dias da Silva, poderiam ter evitado a morte da mulher?


As Polícias Militares de todo o Brasil precisam urgentemente de uma mudança. Não há mais espaço para tanta burocracia dentro dessas corporações. Seus integrantes, sejam eles oficiais ou praças, precisam ser desenrolados.


Não é mais concebível que a mesma Polícia Militar que enfrenta com balas de borracha e spray de pimenta jovens estudantes que fecham avenidas em protesto contra aumento de passagem de ônibus seja a mesma polícia que não procura direito a casa onde uma mulher está sendo espancada pelo marido.


Não é admissível que a mesma polícia que enfrenta com balas de borracha e spray de pimenta pobres moradores que invadem uma propriedade particular, cumprindo com perfeição um mandado de despejo dado pela Justiça, não consegue enxergar outra casa a não ser a de número 99 numa rua escura e sem calçamento, passado pelo Ciodes?


Não é mais possível que a mesma Polícia Militar que tem como principal missão salvar vidas permita que seus integrantes voltem para a base sem solucionar ou encontrar o alvo pela qual foram designados?


Por ironia do destino, horas depois do assassinato de Rosane, o Tribunal de Justiça implantou a  Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar, que tem o objetivo  reduzir os altos índices de violência contra mulheres no Espírito Santo.


Somente em 2011, 133 mulheres foram assassinadas pelos maridos no Estado. Em 2011, a Polícia Civil abriu mais de 3.360 inquéritos contra maridos agressores.


Mas, quantas Rosanes ainda serão assassinadas até que cada órgão de segurança pública assuma a sua responsabilidade e afaste de vez a burocracia e o descaso?

Fonte: Elimar Côrtes

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