“Cinquenta anos dos Rolling Stones”. “Cinquenta anos da conquista do bicampeonato da seleção brasileira no Chile”. “Cinquenta anos da morte de Marilyn Monroe”. “Há cinquenta anos um filme brasileiro ganhava a Palma de Ouro em Cannes”. “Cinquenta anos de Tom Cruise, Jon Bon Jovi, Axl Rose, Paula Toller...”.
Cinquenta é um número forte, emblemático, não nego. Inclusive, sua entonação requer um pouco mais de esforço, uma sílaba de cada vez pedindo passagem, CIN-QUEN-TA, pela boca que parece se abrir mais para pronunciá-lo, um trema que se recusa a morrer. Entendo essa força quando a pedra é cantada num bingo, quando é festejado o aniversário de casamento do feliz casal de vovôs, quando o valor de uma dívida é cobrado, quando o médico comunica que há 50% de chances, mas não compreendo o fetiche que a mídia tem pelo número: é como se 47, 48 e 49 não tivessem existido ou se tivessem ficado hibernando em naftalina, como se não fossem necessários.
Cinquenta tem vida própria, afinal “não é todo dia que se comemora meio-século”, e 2012 tem sido generoso para quem gosta dessas efemérides (vide o primeiro parágrafo) e que deve ser aproveitadas ao máximo, até porque 51, 52 e 53 vêm aí e são tão importantes quanto 47, 48 e 49 (bem que alguém poderia pegar carona e produzir uma mostra com filmes lançados em 1962, adoraria assistir em uma tela de cinema à “Lawrence da Arábia”, “O Sol é para todos”, “Lolita”, “Jules e Jim”, “007 Contra o Satânico Dr. No” ou à “Luz de Inverno”.).
Um homem com cinquenta anos é um homem de meia idade – e que, dificilmente, um dia será um homem de idade inteira. Na numerologia cabalística o número 50 está associado a letra “O” (cinquenta é uó?). Cinquenta é o número atômico do estanho. Em uma cédula de 50 euros há portais e arcos em arquitetura renascentista, na de 50 dólares o ex-presidente Ulysses Simpson Grant (quem?), na de 50 reais uma onça pintada e na de 50 pesos Diego Armando Maradona. Um pé-de-moleque em Salvador custa cinquenta centavos, um programa de meia hora custa cinquenta reais. Cesar Cielo é o recordista mundial dos 50 metros nado livre. O canal Nickelodeon exibiu 50 horas consecutivas de Bob Esponja. A cantora Shakira tem 50 milhões de fãs no Facebook. O atacante uruguaio Edinson Cavani vale 50 milhões de euros. 50 cilindradas é moto de menina. Sobrevivi 50 dias com ela.
Em janeiro, encontrei uma cédula de 50 cruzados novos, em ótimo estado de conservação, guardada por algum previdente senhor, em uma antiga edição de “Sagarana”, em um sebo da Estação da Lapa, mas isso não tem nada a ver com o texto – eu acho.
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